Os vários corpos do homem atuam em conjunto, em uníssono, formando um todo ‑ físico, vital, emocional, mental e causal, que é a Consciência do ser. Apesar de cada um se apresentar com constituição molecular particular, alguns em estado bem mais sutil, todavia, o homem traz um potencial para abarcá-los.
Vamos ver, de maneira sintética, o inter‑relacionamento funcional de todos esses corpos.
O corpo físico é extremamente importante do ponto de vista esotérico. Existe uma certa tendência a imaginar‑se que o cultivo do espírito implica num certo desprezo ao físico. Na verdade, porém, como suporte para realização de uma função cósmica, seu papel é tão importante que os Yogues lhe dedicam um ramo especial da Yoga, que é a Hatha Yoga e que trata da saúde física ‑ de como viver no plano físico, de como tirar o maior proveito desse instrumento para as experiências da vida terrena.
Apesar de todas as extraordinárias capacidades do ser humano se exteriorizarem através deste maravilhoso computador, ao ponto de o homem chegar a pensar que nada mais é do que tão somente este conjunto de células organizadas em vários sistemas e que possibilitam o funcionamento físico-biológico e psíquico com tanta precisão e de forma tão surpreendente, o homem precisa não se descuidar de seus outros componentes.
A integridade do corpo físico, bem como a manutenção de sua saúde, dependem, por exemplo, das energias que circulam pelo corpo vital que envolve o físico. A morte se dá exatamente quando essas energias deixam de circular, interrompendo‑se a interligação entre o vital e o físico.
Todos os corpos mais sutis possuem determinados centros de concentração das energias cósmicas, chamados pelos Orientais de chakras. Esses chakras são, por assim dizer, órgãos dos corpos sutis e são eles que mantém o inter‑relacionamento com os campos energéticos dos vários planos do Universo, sendo que vêm terminar nos plexos do Sistema nervoso.
Sistema nervoso ‑ Segundo Lívio Vinardi: "O sistema nervoso transporta correntes elétricas em forma de ondas ou impulsos de formas e freqüências muito variadas. Trata-se de um complicado conjunto de circuitos bioelétricos e cibernéticos através dos quais se transmitem as ordens voluntárias de ações e movimentos, recebem‑se percepções externas e produzem‑se os comandos de certas funções automáticas como movimento do coração, pulmões, peristálticos etc. O potencial elétrico é de 0,1 volt, sendo que uma pilha pequena tem 1,5 volts. Baseando‑se nas leis físicas comuns, o organismo vivo possui um campo eletromagnético que se constitui no corpo etérico do homem, e o meio de manifestação desse campo é o éter. Essas energias se organizam em vórtices que se constituem nos chakras.
O cérebro é a sede física das reações psíquicas; é ele que nos torna conscientes dos estímulos e respostas, mas todo o metabolismo de nossa vida interior se processa na alma. O cérebro é apenas ponte. Existem experiências de natureza Yogue, chamadas desdobramento, em que a alma se separa do corpo físico e a pessoa continua com o metabolismo emocional e mental funcionando independentemente do cérebro.
Segundo a Teosofia, a dor, por exemplo, é sentida pela alma. Ela sente e interpreta. O anestésico atua isolando o corpo vital por onde circulam as energias que fazem a ligação do físico com a alma; dessa maneira, o estímulo não passa para a alma. O hipnotismo também isola, desliga a alma. Quanto ao anestésico poder-se-ia dizer que atuou nos nervos; mas e a hipnose? Ela atua em registros que estão além do cérebro. A Teosofia responde àquela pergunta feita por Aristóteles: "Como é que a alma se liga ao corpo?".
É nos corpos mental e emocional, ou seja, na alma, que se processa a evolução do homem. Se nós observarmos, veremos que toda a nossa luta interna, toda a nossa problemática está situada no emocional e no mental, daí, para direcionar a vida, haver necessidade de aprender a lidar com esses dois corpos.
Conforme foi citado no capítulo anterior, no momento atual da evolução Universal, o homem conta, para reagir aos estímulos do meio ambiente, com três fatores internos, apontados pela psicologia como volitivos, sensitivos e cognitivos, ou seja, vontade, mente e emoção.
Vamos procurar penetrar um pouco na atuação conjunta desses três elementos, uma vez que a evolução se processa através de uma dinâmica, de um verdadeiro jogo entre eles. A síntese desse jogo seria: colocar em funcionamento a razão; distinguir o certo do errado para aquele momento e para aquela situação; agir de acordo com o certo à custa da vontade, mesmo que haja solicitações de natureza emocional.
Para acelerar a sua evolução e conseguir praticar de forma adequada este jogo, o homem precisa compreender a sua natureza interna; para compreender a sua natureza, ele precisa conhecer as leis que regem a vida, leis essas que são as mesmas que regem o Universo, o Macrocosmos, uma vez que somos o Microcosmos.
A própria Bíblia confirma esta verdade quando diz que o homem é feito à imagem e semelhança do Criador. Do ponto de vista teosófico, essa semelhança não é numa concepção antropomórfica, de que Deus tem a forma física do homem, mas na concepção de que a semelhança entre o homem e Deus é no que diz respeito a princípios, a potencialidades.
A condição mais fundamental para a auto-compreensão é perceber a atuação da lei da Polaridade nos elementos constituintes da alma, assunto que será apresentado com maiores detalhes nos capítulos VI e VII.
A Vontade é polar. Pode ser forte ao ponto de levar o homem a agir de acordo com a melhor opção detectada pela Razão, ou pode ser fraca ao ponto de ceder aos reclamos da emoção.
A Psicossíntese, cujas premissas foram estabelecidas por Roberto Assagioli, empresta à Vontade uma posição de destaque dentro de nossa personalidade. A Psicossíntese está inserida dentro da psicologia que é chamada de "Terceira Força" ‑ conjunto de linhas que não aceitam na íntegra a Psicanálise e o Behaviorismo e aceitam a parte transcendente, imponderável do ser humano. Ela afirma que a psique é polarizada e tende continuamente a buscar o equilíbrio entre os opostos. Ao passo que o homem vai ajustando esses opostos, vai encontrando o foco de sua natureza interna, o seu EU Superior, cujo fator preponderante é a Vontade. Acontece que esta é um joguete nas mãos do desejo e dos impulsos. Para que o indivíduo encontre esse foco unitário da natureza interna é preciso treinar a psique. Esse foco coincide com a Vontade plena e absoluta do ser, daí a Psicossíntese começar pelo treino da Vontade. Ela coloca seis fases para esse treinamento: deliberação, motivação, decisão, afirmação, persistência, execução.
São palavras de Assagioli: "Acredito que a Vontade é a Cinderela da moderna psicologia e, no entanto, foi relegada para a cozinha". A Vontade que ele defende não é a Vontade frontal, no conceito "Victoriano". É uma Vontade dependente da motivação. Preciso compreender as razões, os motivos daquilo que quero conseguir, daí a necessidade da análise mental, da Razão, do discernimento. Sem um objetivo consciente a Vontade jamais se movimentará.
A polaridade da mente, que será analisada no capítulo VI, é que nos coloca sempre diante de uma posição de escolha. Aliás, uma das leis formais do pensamento é o princípio da contradição. Um dos referenciais da mente é o oposto. Sabemos o que é dia, por sabermos o que é noite. Este assunto é amplamente desenvolvido no capítulo da filosofia que trata da dialética.
A polaridade da emoção, que será analisada no capítulo VII, é ainda mais facilmente identificável. Basta olhar para dentro de nós mesmos para verificar que há momentos em que somos invadidos por sentimentos elevados, de afeto, altruísmo etc. e outros em que brotam dentro de nós emoções ligadas ao egoísmo, à vaidade, ao orgulho.
Esta polaridade da alma humana tem uma razão de ser. Para que o homem cumprisse a finalidade da existência, para que pudesse exercer o livre arbítrio, foi necessário que sua personalidade se estruturasse de forma não fixa.
Vejamos o grande jogo da evolução. O homem começa sua caminhada evolutiva com um esquema preponderantemente emocional - ele é impulsionado a agir em busca de um prazer, de uma satisfação imediata. Sempre que, em seu caminho, se interpõe algo desagradável, que ele registra como dor ou sofrimento, o homem quer mudar a sensação. Para modificá-la ele põe em funcionamento o mental, procura analisar a situação e procura mudar as condições. Vai descobrindo as leis que regem a vida e acaba encontrando o caminho da Lei Universal. Se houvesse apenas estímulos agradáveis não haveria movimentação entre os componentes da alma, ela estaria estática e não haveria evolução, uma vez que evolução exige dinâmica.
É este buscar uma condição mais favorável, mais cômoda, que leva o homem a, inconscientemente, desenvolver o seu mental, fenômeno que vem se processando através dos tempos, ao ponto de o homem ter alcançado todo esse fabuloso desenvolvimento mental, patente na ciência, tecnologia etc.
Reforçando a idéia ‑ o mecanismo do processo evolutivo é: diante de situações críticas, ter a capacidade de ajuizar imparcialmente sobre os acontecimentos e tomar a resolução mais adequada para aquele momento, sem atender aos reclamos da emoção.
A Lei do Livre Arbítrio faculta o direito de escolher entre inúmeras opções, mas, após feita a escolha, o homem precisa aceitar as consequências, porque existe, como vimos, a Lei de Causa e Efeito, denominada Karma, que regula o efeito em relação às causas. Através da lei do Karma, o homem vai construindo o seu próprio destino. O apóstolo S. Paulo situa perfeitamente os limites do livre arbítrio quando diz: "Todas as coisas me são lícitas (livre arbítrio), mas nem todas me convém (determinismo da Lei)".
O que se verifica, porém, é que a evolução do homem vem se processando de forma unilateral. Existe grande disparidade entre o desenvolvimento mental e o desenvolvimento emocional. A par com um mental extraordinariamente desenvolvido, o homem ainda é egocêntrico, ainda é movido à ação em busca de interesses pessoais.
As grandes descobertas da ciência, por exemplo, ainda são, em grande parte, empregadas contra o próprio homem. Basta sabermos, conforme estava num noticiário recente, que as nações, em conjunto, aplicam dois milhões de dólares por minuto em armamentos, armando-se para uma defesa contra ataques recíprocos, o que nos mostra que o homem não compreendeu de forma alguma a finalidade da vida.
Alguém fez esta sábia observação: "Num povo verdadeiramente civilizado, o problema não estaria no estratagema de criar novas armas para dominar o mundo, mas no de criar homens justos que não quisessem e nem precisassem mais recorrer ao uso de armas".
As civilizações dos nossos dias, com suas fantásticas proezas de natureza mental, pensam estar alcançando alto grau de evolução mas, evolução no sentido esotérico é alcançar uma modificação interna, em direção à neutralidade, à imparcialidade e à justiça, modificação que vai levando o homem a agir cada vez mais em harmonia com as Leis Universais.
A predominância das exigências emocionais no comportamento humano é que nos faz sofrer. Não sabemos estabelecer escala de valores adequada. Ainda colocamos nossas expectativas de felicidade em fatores transitórios, perecíveis.
Psicologicamente, felicidade é alcançar uma meta. Podem observar que sempre que alcançamos uma meta, algo que ambicionávamos, sentimo-nos felizes. Acontece que nossas metas são bens relativos e logo percebemos que aquilo que conseguimos não é bem a felicidade que esperávamos e colocamos nova meta.
Ao entrar pelo caminho da auto-realização, passamos a buscar metas mais duradouras, mais permanentes e nosso estado de felicidade vai também progressivamente se ampliando e se estabilizando.
A vida é um jogo vasto e complexo, mas extraordinariamente fascinante. Aprender o jogo da vida é a meta máxima da própria vida e, portanto, condiciona o encontro daquela felicidade que vimos buscando não só nesta vida, mas através de todas as vidas que já tivemos.
Quanto melhor conseguirmos estabelecer uma comunicação entre o físico e os corpos mais sutis, mais aproveitaremos nossas potencialidades. Um dos objetivos da auto-realização é, através da Yoga e de um trabalho de organização interior, ir conseguindo um melhor intercâmbio entre os vários corpos e a Consciência Superior. Como consequência, a pessoa irá caminhando em direção a percepções de nossa parte transcendental, inclusive as chamadas extrasensoriais.
Sabe-se que existem capacidades não explicadas. A hipnose, por exemplo, comprova isso. A pessoa hipnotizada pode perceber fatos que se processam do outro lado do mundo, lê cartas fechadas, adivinha pensamentos etc.
Em 1.967, o cientista A. Longhi, pesquisador do Instituto Superior de Ciências de S. Paulo, procurou a polícia de Belo Horizonte e prontificou-se a ajudá-la no esclarecimento de um assalto ao Banco Moreira Sales. Serviu-se de duas moças que, hipnotizadas, indicaram a paradeiro dos ladrões.
A transmissão de pensamento é a ressonância, de natureza eletrônica, de uma mente para outra. O cérebro funcionaria como um computador eletrônico numa determinada vibração, e a mensagem seria recebida por outro cérebro de vibração idêntica. O químico Francês Rene Warcollier conseguia transmitir seus pensamentos, à distância, com incrível rapidez, fato que foi comentado pela imprensa da época.
A telepatia tem sido comprovada estatisticamente. Na França e nos Estados Unidos, Rhine, da Duke University, chegou a catalogar vinte e oito mil casos de premonição.
A eficácia da radiestesia, do funcionamento do pêndulo, é outra realidade surpreendente. Presenciei o seguinte fato. O gatinho angorá de um casal conhecido foi roubado e não se tinha idéia de onde estivesse. Em uma cidade de trinta mil habitantes, inclusive cortada por um rio que a divide ao meio, o técnico em radiestesia pesquisou o mapa da cidade e localizou a casa onde estava o gatinho, situada a 8 kms. de distância. Foi só o trabalho de ir buscá-lo.
Outro fato verídico, ainda mais surpreendente, foi encontrar um cão na cidade de São Paulo. O cão estava próximo ao aeroporto de Congonhas, a 15 kms do local do desaparecimento. A rua foi localizada através de um mapa guia da cidade e, dentro de uma rua extensa, a casa para onde o cão tinha sido levado foi identificada.
A ciência sabe que nossos sentidos são limitados. Na escala de radiações eletromagnéticas, por exemplo, a visão só percebe a gama que vai do vermelho ao violeta, mas os aparelhos detectam e inclusive utilizam o que está acima e abaixo. O mesmo acontece com os outros sentidos que também só são sensibilizados por certa gama de vibrações. A Teosofia, no entanto, afirma que o homem tem possibilidade de vir a perceber o Universo de forma integral.
O primeiro indício de equilíbrio interno, é a ampliação da intuição, fenômeno esse perfeitamente caracterizado pela ciência. O homem vai, progressivamente, contatando as potencialidades de sua Consciência Superior que, como partícula da Divindade, vai liberando Seus atributos ‑ onipotência, onipresença e onisciência. O Criador dá ao ser criado, a possibilidade de abarcar o Todo Universal e se integrar nele. Este religar da parte inferior à parte superior, como já foi citado, é que é o verdadeiro sentido da palavra religião, que vem do Latim "religare".