A estruturação de todas as coisas é resultante da atuação das Leis Universais. Tudo no Universo está inter‑relacionado; nem o mais diminuto grão de areia está desligado do Todo.
Segundo Hegel (1.770‑1.831): "O mundo não é uma coleção de unidades autônomas, átomos, almas, cada um com existência independente. Nada é completamente independente e subsistente a não ser o Todo, que vem a ser o Absoluto, o qual não é estático mas dinâmico. No seu devenir, se desenvolve de acordo com sua fundamental lei interna ‑ a dialética, que se constitui de três fases ‑ tese, antítese e síntese. A Natureza é antítese do Absoluto. Através da Natureza, como seu oposto, o Absoluto chega a ter consciência de si, o que constitui como que sua síntese suprema".
O método que o Supremo Arquiteto, ou seja, Deus, empregou para construir a Obra Cósmica é aquele mesmo que temos de aplicar em nós próprios para entendermos nossas reações e conduzirmos as nossas atividades neste plano físico no qual vivemos atualmente.
Neste capítulo iremos nos deter meditando um pouco a respeito da Lei da Polaridade. Ela evidencia‑se por toda a parte ‑ na eletricidade como pólo positivo e negativo; na constituição do átomo como prótons e elétrons.
Essa polaridade cósmica está evidente na natureza humana e é ela justamente a causa primordial da complexidade do ser humano. O dia em que o homem entender esta Lei, enxergá‑la agindo dentro de si, estará entrando pelo caminho do autoconhecimento. E a autorealização está vinculada à conciliação destes dois pólos no funcionamento do mental e do emocional. Nenhum princípio existente no Universo pode ser desprezado. Precisa ser compreendido, isso sim, e corretamente aproveitado porque tudo é dual e o estado ideal de todas as coisas é o de perfeito equilíbrio.
Para tirar o melhor proveito possível de uma máquina qualquer, precisamos conhecer a sua engrenagem, o seu funcionamento, as suas possibilidades. Isto, por mais simples que seja. Para obter o maior rendimento possível de todas as suas infinitas possibilidades, o homem precisa começar por conhecer a sua estrutura interior.
Vamos dar, então, mais um passinho dentro de nós mesmos, considerando novos aspectos da dualidade de nosso mental e, depois, a de nosso emocional.
Pois bem, a polaridade é justamente a característica do mental racional. O homem só consegue entender alguma coisa em termos de outra. Só é possível formar um conceito de alguma coisa da qual possamos conceber o contrário, como por exemplo: fácil‑difícil, morte‑vida, belo‑feio, bom‑mau. Podemos formar conceito dessas idéias porque podemos estabelecer comparações.
Aristóteles, que foi o precursor da lógica, afirmava que o pensamento só começa quando se associam pelo menos duas idéias, afirmando ou negando uma a outra. Caso contrário, apenas estaremos emitindo idéias soltas, esparsas.
Raciocinar, em lógica, significa estabelecer uma relação necessária entre duas proposições ou enunciados. Vejamos as duas formas de raciocínio, o dedutivo e o indutivo.
A mais simples forma do raciocínio dedutivo é o chamado silogismo, proposto por Aristóteles. No silogismo temos:
1. Premissa maior, de caráter universal;
2. Premissa menor, de caráter particular;
3. Conclusão.
O exemplo mais tradicional do silogismo é aquele que diz:
1. 0 homem é mortal;
2. Sócrates é homem;
3. Logo, Sócrates é mortal.
Se observarmos, cada um destes enunciados representa uma idéia solta, esparsa. Só há pensamento, raciocínio, pela interligação, efetuando‑se uma comparação afirmando, ou comparação negando, para se chegar a uma conclusão. A matemática é baseada neste tipo de raciocínio, que é dedutivo. A matemática resulta de deduções que partem de princípios fundamentais pré‑estabelecidos, chamados axiomas, ou postulados. Naturalmente, este método pode falhar em suas conclusões pois tudo depende da veracidade, da exatidão desses postulados e axiomas, tomados como base do raciocínio.
Por exemplo, com premissas falsas, podemos deformar a conclusão e criar sofismas.
1. Quem enterra um objeto cortante no corpo de uma pessoa deve ser punido;
2. Os cirurgiões perfuram os corpos;
3. Os cirurgiões devem ser punidos.
Zenon de Eléia (490 a.C.) não era sofista mas zombava de suas argumentações. Diz ele: "Aquiles jamais alcançará a tartaruga. Aquiles corre o dobro. Sempre que Aquiles corre um tanto, a tartaruga corre a metade. Como a trajetória se compõe de infinitos pontos espaciais, eternamente estarão com a distância de metade do caminho".
O chamado raciocínio indutivo é aquele que parte da análise das partes e caminha para o todo. Exemplo:
1. Particular ‑ A Terra, Marte, Vênus, Saturno e Netuno são planetas;
2. A Terra, Marte, Vênus, Saturno, Netuno não brilham com luz própria;
3. Logo, os planetas não brilham com luz própria.
Este tipo de raciocínio emprega o método da experimentação, da observação de casos particulares para chegar a uma generalização. Este método também pode falhar, pois a generalização é sempre perigosa. Podemos dizer, em alguns ramos do conhecimento, que este é um dos pecados mortais do pensamento, pois o homem conhece uns poucos elementos de uma determinada classe e generaliza para toda a classe; conhece uns poucos elementos de uma determinada raça, por exemplo, e generaliza as características para a raça inteira. Para que este método tenha sucesso é preciso que se baseie em experiências acuradas e em estatísticas minuciosas.
Do ponto de vista da polaridade, nesse tipo de raciocínio indutivo, o homem também joga sempre com dois objetos ou dois enunciados entre os quais estabelece relações, analogias para formar um conceito um pouco mais amplo. Com este novo conceito, porém, não consegue fazer nada. Precisa de um novo objeto ou enunciado para com ele estabelecer novas analogias, novas associações para chegar a uma verdade um pouco mais ampla e, assim, sucessivamente, ir de comparação em comparação, caminhando até chegar a um ponto que satisfaça seu mental.
Quer dizer que, analisando os métodos de raciocínio atuais, verificamos que a mente racional parte sempre de um estado de dúvida para entrar no terreno da investigação, da indagação para, depois, terminar numa situação que responda a suas expectativas quando, então, dá lugar a uma crença, a um conhecimento, ou, se o resultado for extremamente amplo, chegar ao estabelecimento de uma lei.
Fizemos toda esta dissertação para mostrar que o mental humano é limitado, imperfeito e o objetivo da auto‑organização é levar o indivíduo a desenvolver este seu mental através de processos especiais, especificados dentro da Yoga. O homem deverá desenvolver seu mental de tal maneira que ele adquira a capacidade do chamado conhecimento direto, uma das potencialidades do espírito. Ele irá aos poucos adquirindo aquela aptidão que a ciência conhece hoje pelo nome de intuição, ele irá penetrando no terreno da onisciência, que é uma das características do estado de ser da Divindade.
O cientista dos nossos dias reconhece abertamente as limitações de nosso mental. Podemos afirmar que a maior descoberta feita pela ciência, nestes últimos tempos, foi justamente o abandono daquela convicção do cientista do século passado que acreditava ter sempre a última palavra em cada nova descoberta. Todo o cientista do século XX e XXI aceita que está longe da última verdade, o que é uma grande vantagem do ponto de vista mental, que deve ser eclético, de largos horizontes.
O homem acabou por se convencer de que os sentidos e a mente têm provocado enganos que levaram a ciência a erradas interpretações dos fatos. Acreditou‑se uma vez, por exemplo, que o sol girava ao redor da terra e não a terra ao redor do sol; que a terra era imóvel; acreditou‑se na solidez e indestrutibilidade da matéria etc.
Com os recentes estudos da Parapsicologia, a ciência começa aceitando, também, que existe uma faixa de nosso inconsciente que está totalmente inexplorada, faixa essa que é fonte de riquíssimas inspirações, que chegam como lampejos de intuição. Com o tempo, estes lampejos deverão ir aumentando, se estabilizando até se tornarem um estado de ser permanente. O homem não mais precisará da comparação, da experimentação para aprender. Bastará meditar, cujo processo, aliás, é ensinado na Yoga e ele simplesmente saberá, conhecerá, passará a ver as leis.
Parapsicologia
‑ Ramo da psicologia que estuda as experiências que parecem transcender as
leis da natureza.
Joseph B. Rhine (1.895), professor da Duke University nos Estados Unidos, é
pedra angular desse campo de pesquisas. Empregou o método estatístico e foi
quem deu o nome de parapsicologia. De uma maneira geral, os fenômenos se
classificam:
‑ Psi ‑ ligeiras percepções extra‑sensoriais;
‑ Psi‑gama ‑ fenômenos subjetivos como clarividência, premonição,
clariaudiência, mediunidade, psicometria etc;
- Psi‑kappa ‑ fenômenos objetivos como levitação, telecnésia;
Os resultados têm sido confirmados por quantidade expressiva de
estatísticas, o que empresta um caráter científico, mas a ciência não tem
elementos para explicar os fenômenos.
Por isto é que é difícil para o ser humano entender Deus, pois Deus é a
soma de todas as leis, é algo global e nunca poderá ser entendido pelo
mental racional que é dual, dialético, imperfeito.
É por causa desta limitação do seu mental que o homem está repleto de conceitos, de pontos de vista, de dogmas, escolas filosóficas etc. O mental racional se recusa a aceitar aquilo que não possa ser provado de modo material.
Nosso mental só tem capacidade de percepção para conhecimentos que estejam dentro de um determinado limite. Além desse limite, para conhecimentos mais transcendentes, é exigido um novo veículo, uma nova forma de percepção. O homem está, por assim dizer, incompleto.
No próximo capítulo trataremos da polaridade da emoção.