Já sabemos que somos constituídos por vários corpos animados por uma Consciência que, por ser partícula da Divindade, possui todos os atributos de Deus ‑ onisciência, onipotência e onipresença. Estes valores estão ocultos pela psique, ou seja, pela alma, que é formada pelo emocional e pelo mental em seus vários níveis.
Vimos, também, o reflexo da Lei da Polaridade nos componentes da alma ‑ Vontade ‑ Mente ‑ Emoção.
Entre estes três fatores desenvolve‑se um tremendo jogo de forças que resulta no Karma do ser. Dependendo da forma como conduzimos esse jogo podemos evoluir ou involuir. O não entendimento ou o jogo errado resulta no estado de sofrimento, gera este drama no qual o ser humano está envolvido.
Quando nós compreendemos o mecanismo desse jogo de forças, vemos que a coisa é simples. Do ponto de vista mental é, na verdade, tão simples, tão trivial, que a mente começa armando uma de suas ciladas. A mente começa logo sugerindo ‑ Bem, tudo isso eu já sei, e daí? O problema é que a simplicidade é só exterior e o que o mental quer é não se aprofundar, porque assume responsabilidade para executar.
Uma das grandes provas que o candidato tem de superar quando se dispõe à auto‑realização é justamente a simplicidade aparente dos requisitos.
Para entender o jogo dos fatores da alma é preciso distinguir entre Vontade Desejo e Vontade Força de Vontade.
Quando digo ‑ Tenho vontade de ir ao cinema - é desejo.
Quando digo ‑ Não vou ao cinema porque preciso estudar ‑ é Força de Vontade.
Quando expressamos uma Vontade Superior, normalmente não empregamos a palavra Vontade. A não identificação do sentido exato desta palavra dificulta a algumas pessoas o entendimento do jogo da alma. Vontade desejo é aquela que leva o homem à satisfação de um prazer imediato. Vontade Superior é aquela que leva o homem a agir de acordo com os ditames de sua consciência.
Vamos analisar o esquema ideal de funcionamento:
Para resolver qualquer problema existencial, sem recalque, preciso desenvolver um processo. Recalque é justamente jogar o problema para a área do inconsciente sem enfrentá-lo e deixá-lo continuar atuando de lá de dentro, porque a gente esconde mas não se liberta dos princípios que perturbam.
Digamos que se queira controlar um vício ‑ bebida, tóxico, fumo ...
1. Injetar o problema no mental. Estudar do ponto de vista científico, religioso, ético. Buscar elucidações a respeito do problema. Ao adquirir conhecimentos, estará descobrindo Leis; ao descobrir Leis aumentará seu grau de consciência e caminhará na evolução.
É este o objetivo da Natureza quando a Lei coloca as dificuldades, os problemas pelo caminho dos homens. Não é para ver o homem sofrer, mas para incitá‑lo a descobrir um meio de se safar das situações dolorosas, incômodas. É assim que a humanidade vem progredindo de maneira inconsciente. Procurando remover as coisas que a incomodam e buscando novas formas mais cômodas e mais confortáveis. Após adquirir o conhecimento, o homem deverá entrar com a argumentação. Deverá apresentar todos os argumentos possíveis no sentido de convencer‑se de que não deve continuar no vício, por exemplo, ou, em outros casos, porque deve fazer tal coisa, porque deve tomar tal atitude etc. Se, neste caso do vício, depois desta argumentação, agora com conhecimento de causa, o indivíduo ceder e persistir, se se deixar levar pelo desejo, ele sofrerá consequências imediatas e remotas, consequências essas que a Teosofia chama de Karma. As consequências imediatas ele recebe logo, entre outras, as ligadas à saúde, e as remotas, como consequências futuras, no plano físico e psíquico. Se não atende às colocações da razão, vai enfraquecendo a consciência e vai alimentando a emoção. Cada vez que não se ouve a voz da razão, vai se diminuindo o campo da Vontade e, automaticamente, vai se ampliando o campo do desejo. Este desequilíbrio resulta em Karma negativo que é sinônimo de sofrimento.
Existem inúmeros aspectos deste jogo de forças dentro da alma a serem abordados, mas quero chamar a atenção para um ponto que é interessante.
1. De posse de um problema o homem sofre.
2. Para resolver um problema ‑ sofre. Esta fase da resolução é sempre dolorosa, é a fase da dúvida. É tão dolorosa que o homem procura sempre fugir dela. O homem não enfrenta seus problemas de frente, ele procura jogar tudo para o inconsciente, recalca, mas continua envolvido no problema, portanto dentro do sofrimento.
3. Caso ele resolva enfrentar, ele tem duas possibilidades:
a) resolver errado e sofrer as consequências imediatas e remotas;
b) resolver certo, quando ele sofre também. Sofre a renúncia do desejo. O rompimento de um esquema sempre provoca dor. O esforço para ultrapassar o desejo ou os reclamos da egoidade, causa grande perturbação interior, estado que experimentamos muitas vezes ao longo do caminho da auto‑realização, ou seja, da evolução.
4. Então parece que o homem está sempre preso por ter cão e preso por não ter cão. Para sair deste jogo do sofrimento, para encontrar sua libertação, o homem tem apenas uma frestinha, apenas uma pequena possibilidade de entre milhares de outras que o levam sempre para o caminho da insatisfação interior. Por isso é que lá na Bíblia está: "estreita é a porta e apertado o caminho que conduz o homem à salvação".
Vejamos como funciona:
Se resolvo errado, sofro duas vezes ‑ imediatas e remotas.
Se resolvo certo, sofro apenas uma vez. Sofro aquele esforço para manter o equilíbrio psíquico mas adquiro Karma positivo cujo sinônimo é felicidade, paz.
Este é o grande jogo da alma humana.
Se o homem aprende, isolando a emoção e sabendo encontrar a medida justa para suas reações, encontra a paz.
Se não aprende ou não tem a força, encontra o sofrimento, a insatisfação.
Resumindo: Devido aos condicionamentos que trazemos estamos acostumados a reagir de forma emocional, em busca de um prazer imediato. Só conseguiremos ultrapassar se pusermos em funcionamento um processo:
1. Colocar o problema no mental, adquirir conhecimento e descobrir Leis;
2. Entrar com a razão e identificar a medida justa, através da argumentação;
3. Ouvir a voz da Razão;
4. Fazer o que a Razão achar justo, a custa da Vontade, mesmo que custe grande esforço.
Isto é que se chama agir de acordo com o grau de consciência.
D.S. Vol. V: pag. 532 ‑ "Razão é algo que oscila entre o certo e o errado. Mas Inteligência ‑ Intuição ‑ é superior, é a visão clara". ‑ "A Mente Superior governa a Vontade; a inferior transforma a Vontade em Desejo egoístico".
Otto Rank (1.884‑1.939), psicanalista Austríaco: "O ser humano experiência sua individualidade em termos de sua Vontade, e isto significa que a sua existência pessoal é idêntica a sua capacidade de expressar sua Vontade no mundo".
William James (1.842‑1.910), psicólogo e filósofo Norte-Americano: "Seja sistematicamente heróico em pequenos pontos desnecessários; faça todos os dias alguma coisa, sem nenhuma outra razão a não ser a sua dificuldade, de modo que, quando necessitar da Vontade para algo sério, ela esteja fortalecida".
Existem técnicas psicológicas que ajudam muito a encontrar o caminho da vitória nesta luta interna, não só no sentido de impulsionar a Vontade, mas, também, no de neutralizar outras problemáticas psíquicas: a Neurolinguística de John Grinder e Richard Bandler ‑ o Treinamento Autógeno de Schultz ‑ as várias linhas de "O poder do pensamento".
Vale a pena procurar conhecê‑las.