Para entender melhor certas colocações que já foram feitas, vamos apresentar um apanhado sobre a cosmogênese.
Antes que haja Universo, preexiste um Princípio Eterno que condensa, dentro de Si, todas as potencialidades do mundo objetivo. Entre os Teósofos esse Princípio é conhecido como a Substância.
No "Livro dos Números", Caldaico, a Substância recebe o nome de Alma Flamejante do Pelicano, comparação que está registrada na Doutrina Secreta, Estância III - Sloka 8.
Toda a citação da Doutrina Secreta refere-se à Edição de Adyar de 1.962, em Inglês.
Pelicano - Ave aquática de plumagem branca. Chegam a ter um metro e dez de comprimento. Possuem um volumoso saco membranoso formado pela mandíbula inferior e nutrem os filhotes por regurgitamento. Existe um símbolo heráldico que representa o pelicano em seu ninho alimentando os filhotes com seu próprio sangue.
Este mesmo simbolismo é empregado pelos Maçons e pelos Rosa-Cruzes que representam o Pelicano a descarnar o próprio peito para alimentar seus sete filhotes. Essa é uma imagem perfeita do princípio Eterno, que se encontra no estado de inércia ativa, o qual tira de si mesmo a substância vital para formar o Universo, que se estrutura em etapas setenárias.
Helena Petrovna Blavatsky - H.P.B. - com base em uma simbologia antiquíssima, registrada em folhas de palma impermeáveis, descreve, da seguinte forma, os quatro estágios fundamentais da manifestação:
- O primeiro símbolo é um círculo perfeito, representando o Eterno, ou seja, a substância, com todas asVamos ver o surgimento do Universo segundo a tradição Hindu, procurando relacionar com os símbolos de H.P.B. e, ao mesmo tempo, observar a variedade de nomes aplicados à mesma etapa cósmica e, isto, só dentro da filosofia Hindu.
Em um dos livros da filosofia Hindu, no Manava Dharma Shastra, conhecido como o Código de Manu, temos a seguinte explicação para a formação do Universo:
"O Espírito de Vida - ou seja, a Substância ( ) - penetrando no ovo da matéria virgem ( ), como germe eterno que se faz germe periódico, fica incubando durante cem anos divinos, depois dos quais nasce Brahmã . Brahmã divide seu corpo em duas partes ( ) - parte superior, solar, masculina, que é o próprio Brahmã, e parte inferior, lunar ou feminina, que é Vach, o Verbo, a palavra. E Brahmã gera em Vach o Filho, o Universo Ativo ( )".
Quer dizer que, numa quarta fase do Universo, Pai e Mãe se unem, o Pai representado pela linha ativa e vertical e a Mãe pela linha passiva e horizontal, formando a Cruz do Mundo, o Universo Ativo, o Filho, o Demiurgo, o Construtor, o Supremo Arquiteto dos Maçons.
Procuraremos detalhar mais essas quatro fases da manifestação:
- O círculo já citado como Espírito de Vida e Substância, ainda dentro da filosofia Hindu, é conhecido pela palavra Sânscrita Parabrahm. Aquele que está além de Brahmã, o Absoluto, Aquele que não tem atributos, de cuja essência tudo emana e que a tudo impregna, desde o mais elevado de entre os Seres Hierárquicos até o mais ínfimo átomo material. H.P.B. - "Parabrahm, o Desconhecido e Incognoscível, não é o Ego, não é o Não-Ego, nem tampouco a Consciência, não é Atmã sequer... mas ainda que não seja em Si um objeto de conhecimento é, sem dúvida, capaz de sustentar e dar lugar a todas as coisas e classes de existências que se convertam em objeto de conhecimento. É a Essência Una, da qual nasce para a existência um centro de Energia que se chama Logos". Subba Row, grande estudioso da Vedanta, em seu livro "Notas sobre o Bhagavad Gita", confirma a idéia de Parabrahm dar surgimento ao Logos, nos seguintes termos: "Parabrahm ( ) é a Essência da qual surge para a existência um centro de energia que chamarei, por enquanto, de Logos ( ). É chamado o Verbo pelos Cristãos, e é o divino Cristo que é eterno no Seio de seu Pai. Em quase todas as doutrinas está presente a formulação da existência de um centro de energia espiritual que nunca nasceu e é eterno e que existe no seio de Parabrahm durante os períodos de repouso, conhecidos como Pralaya, e inicia como um centro de energia consciente no período de atividade cósmica".- Esse centro de energia, representado por H.P.B. pelo círculo com o ponto no centro e citado por Subba Row como Brahmã, é o aspecto masculino do Criador e existe periodicamente quando o Universo se manifesta e deixa de existir no grande repouso Universal, conhecido como Pralaya.
- O círculo com o diâmetro, que recebeu de Subba Row o nome de Vach, é também conhecido pela palavra Sânscrita Vishnu, que provém da raiz "Vish" que quer dizer atravessar. É o aspecto feminino da Criação e é, tal como foi visto na transcrição do Manava Dharma Shastra, "UMA" com Brahmã que a criou pela divisão de seu próprio corpo. Seria a Mãe do Universo.
- O círculo com a cruz interiorizada é também conhecido pela palavra Sânscrita Shiva. É o construtor, aquele que destrói em um determinado plano para poder reconstruir em um plano superior. Seria o Filho, com todo o jogo kármico da Criação.Quando o estudante se dispõe a pesquisar, dentro das várias tradições, a origem do universo, ele se confunde sobremaneira, em virtude da grande quantidade de nomes aplicados a uma mesma etapa. Por exemplo:
Substância, Parabrahm, Absoluto;
Brahmã,
Logos, Verbo dos Cristãos, Pai do Universo;
Vishnu, Vach, Mãe do Universo;
Shiva,
Demiurgo, Construtor, Supremo Arquiteto, Filho.
Brahmã, Vishnu e Shiva, por exemplo, se constituem na Trindade Hindu, da filosofia Védica. A trindade é um
Arquétipo que surge em todas as tradições e, em cada uma, recebe nomes diferentes.
São exemplos:
Arquétipo
‑ O conceito de arquétipo deriva da observação de que os mitos e os
contos da literatura universal encerram temas bem definidos que
reaparecem sempre e por toda a parte.
‑ Seriam disposições inerentes à estrutura do sistema nervoso que
conduziriam à produção de representações sempre análogas ou similares,
de natureza coletiva. Do mesmo modo que existem pulsões herdadas a agir
de modo sempre idêntico, que envolvem os instintos, existiriam também
tendências herdadas a construir determinadas representações que aparecem
de forma análoga ou semelhante nas várias tradições, nas mitologias, nos
folclores, nos mitos. A esse fenômeno de se defrontar com tais fatores
do inconsciente de forma vivencial, experimentando sentimento de
mistério e de profunda e inesquecível impressão, a psicologia dá o nome
de "estado numinoso". O homem procura objetivar essas experiências
através de imagens, como deuses, demônios, espíritos etc.
Egípcia |
Caldaica |
Brasileira |
Cristã |
Osíris |
Anu |
Tupan |
Pai |
Isis |
Hea |
Ceci |
Filho |
Horus |
Bel |
Coaracy |
Espírito Santo |
Kether
- a coroa
simbolizada por um Rei-ancião de perfil e só com uma face; Cochmah
- sabedoria -
simbolizada por um homem de barba;
Hebraica
Grega - Mitologia
São conhecidas
como as três Normas ou Parcas que fiavam eternamente.
Clotho - a primeira que
sustinha a Roca - A Vontade do Eterno que mantém tudo;
Laquesis - a segunda que fiava
- A Atividade;
Em virtude dessa quantidade de nomes, ao estudar, devemos procurar, inicialmente, nos desligar dos nomes e nos fixar na função de cada etapa. A filosofia que melhor situa a função ao dar o nome às etapas é a Cabala. Dentro da Cabala, conforme está registrado no Sepher-Há-Zohar, também são quatro os momentos da Criação, considerados como os quatro Mundos. De acordo com o que vimos fazendo, passaremos a apresentá-los em correspondência com os símbolos de H.P.B.:
1. Mundo dos princípios -2. Mundo das Causas -
3. Mundo das Leis -
4. Mundo dos Efeitos -
Esta nomenclatura, que é adotada pela Teosofia de uma maneira geral, ajuda o entendimento. Cada um destes quatro Mundos tem uma característica particular e uma função específica que está bem expressa nessa classificação. É difícil de descrever estes momentos da cosmogênese de forma didática, porque são processos concomitantes e que estão presentes, sempre, em todas as coisas e em todos os eventos. É a onipresença de Deus. Todos os momentos têm estes quatro estágios. Um Princípio, sem o que nada existiria, uma Causa ou seja, uma idéia de Deus e uma Lei regendo a relação entre a Causa e o Efeito.
Vamos acrescentar mais
alguns dados pare esclarecer melhor esse desencadear do Universo.
- Mundo
dos Princípios, a Substância, ou Parabrahm, é aquele princípio que preexiste
e que traz dentro de si, em perfeito
equilíbrio, tudo o que é necessário para criar o Universo. É conhecido
também como 1° Trono.
- Sattva correspondendo ao repouso dentro da Divina Sabedoria e que, na estruturação da matéria, opera com a força centrífuga.
- Rajas correspondendo ao movimento, à atividade, à vibração.
- Tamas correspondendo à inércia e que opera com a força centrípeta.
Em virtude das sete potencialidades das Gunas, ou seja, das sete gradações em que podem operar, surgem os sete átomos Primordiais, que vão delinear os sete planos da matéria.
Alice Bailey, no seu "Tratado sobre Los Siete Rayos", diz: "A vida é a síntese de toda a atividade, atividade que é a mescla de muitas energias, porque a vida é a soma total das energias dos sete Sistemas Solares, dos quais nosso sistema solar é um".
Brahmã é o Mundo das Causas porque é Ele que elabora o plano arquetipal. Corresponde, na nomenclatura Teosófica, ao 1° Trono. É a possibilidade de transformar o Não Ser em Ser, o incontingente em contingente. É o nucléolo por onde eternamente fluem as energias necessárias para manter a integridade do Universo.
- Vamos procurar agora conhecer a mecânica desses Mundos Cósmicos, percebendo a função do Mundo das Leis, que corresponde, na nomenclatura Teosófica, ao 2º Trono.
Cada Causa é regida por uma Lei para que resulte num Efeito organizado aqui no Mundo da Manifestação. Sem Leis, o Mundo dos Efeitos seria um caos. No entanto, existe harmonia até mesmo nos fenômenos aparentemente desequilibrados, como cataclismos, enchentes etc. São controlados pelas leis que regem os ciclos de transformação.
O Mundo das Leis funciona como um filtro por onde passam as Causas. O Universo progride através de impulsos de Causa e Efeito.
Obedecendo a uma das Leis Universais, toda a Causa, dentro do plano Arquetipal, para se projetar, se polariza. Ao polarizar-se, aquilo que ela projeta é o seu oposto. Para projetar o oposto, a Causa precisa de um ponto para se espelhar. Esse ponto é a Lei. Daí o símbolo da ampulheta ser tão significativo.
Quando percebemos que cada movimento no Mundo dos Efeitos tem uma Causa regida por uma Lei, compreendemos a afirmativa esotérica de que o 2º Trono está em toda a parte e existe sem existir. 0 2º Trono é um estado de relação, é um estado de ser.
Vejamos bem, o 2º Trono não é um lugar. Existe uma tendência de se pensar em um lugar fora - céu, inferno, purgatório. Difícil perder a idéia de um Deus fora, nos céus. A Substância, Parabrahm ou Deus é tudo e está em tudo. O Deus das religiões é elaborado dentro das limitações do mundo dos fenômenos. É um Ser que possui corpo, posição no Universo, habita o Céu. Reage com impulsos, castigando, premiando, perdoando, critérios finitos, relativos.
A idéia de um Deus - pólo positivo - à parte, externo, implica em um Diabo - pólo negativo - externo, o que estabelece entre ambos um antagonismo. Isso impede o homem de realizar a reintegração desses dois princípios. No entanto, o objetivo da evolução é o de reconciliar esses pólos.
- Aqui no Mundo dos Efeitos, também conhecido como 3º Trono, só conhecemos os efeitos. Pelos efeitos os cientistas procuram descobrir as Leis que regem os fenômenos. Nossa Consciência está focada no 3º Trono. Através do desenvolvimento interior vamos conseguindo transferir a Consciência para outros planos. É uma transferência muito diferente da provocada pelos alucinógenos. Estes levam para o plano astral através do rompimento da rede vital, conforme veremos no capítulo XIII, facilitando infiltrações do astral e prejudicando a evolução normal da pessoa. Como o alucinógeno dá uma vivência emocional e desfoca o mental, diluindo toda a problemática existencial, então, o indivíduo tem aquela ilusão de satisfação e quer repetir. Mas o certo é haver uma transferência da Consciência de forma consciente, através da sutilização dos centros de força onde, em nosso corpo físico, se refletem as energias cósmicas.
Confirmando tudo o que foi dito sobre o Universo, temos as palavras de Einstein: "No instante zero do Universo, toda a matéria e toda a energia estavam concentradas em um único ponto de densidade infinita. O espaço e o tempo estavam dobrados, fechados sobre si mesmos. Nesse momento, o Cosmo explodiu dando início a uma expansão que ainda está em curso, onde as galáxias e as estrelas se afastam continuamente umas das outras. O Universo torna-se mais rarefeito e a matéria e a energia mais diluídas. O movimento torna-se mais livre num espaço-tempo mais distendido, de curvatura mais suave. Essa expansão poderá continuar indefinidamente ou pode se interromper em determinado momento, arrastando mais uma vez o Cosmo a um estado primordial e ao renascimento".