CAPÍTULO XV

"SERÁ POSSÍVEL PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS"?

 

Os antigos filósofos, tais como Zenon, Aristóteles, Anaxágoras, os Neoplatônicos, citados no capítulo I, todos eles tinham por preocupação primeira a busca de Deus.

Até há bem pouco tempo, podemos dizer que a humanidade acreditava em Deus e na vida eterna. Do século passado para cá cresce o materialismo, apoiado pelas filosofias e pelas ciências materialistas.

Hoje, vemos na Rússia os princípios comunistas amortecendo a religião e nos Estados Unidos vemos desenvolver‑se o materialismo biológico.

Podemos perceber essa tônica materialista nos seguintes pronunciamentos:

‑ Júlio Huxley, Inglês, nascido em 1.887, notável biologista: "Toda a esfera de atividades dos fenômenos físico-químicos e biológicos pode agora ser considerado em termos naturalísticos; invocar a ação de Deus no processo é não somente desnecessário, como intelectualmente duvidoso". Esse pensamento foi externado na revista Time de 1/8/1.961.

‑ J. J. Muller, laureado Prêmio Nobel: "Acreditar na alma é deleitar‑se com as mais fantásticas ilusões e postular que existe mente fora do cérebro é um voluntário engano de si próprio".

Favorecem a aceitação dessas afirmativas, determinados argumentos biológicos que estabelecem a relação entre mente e cérebro. Por exemplo:

‑ A descoberta de que, sem inteligência alguma, cada planta e cada célula animal contém quimicamente informações cifradas no ácido ribonuclêico ‑ ARN ‑ e no ácido desoxiribonuclêico ADN ‑ que, atuando nos cromossomos, as capacitam a reproduzir e a formar o correto tipo de corpo;

‑ A intervenção do ácido nuclêico nos mecanismos da memória e do aprendizado.

Mas os questionamentos permanecem. Será que existe uma inteligência criadora? Será que existe algo além da matéria física, da energia e dos fenômenos a ela inerentes? Podem a mente e a inteligência existir separadas da atividade celular, de tal sorte que a existência de uma pessoa não acabe quando morre o corpo? 

Se a resposta for "não", isto significa que o Universo, tão maravilhosamente regido por leis precisas, ao ponto de tornar possível a vida, nada mais é do que o resultado de fatos acidentais. Se o homem for apenas uma máquina que reage aos estímulos do meio ambiente procurando adaptar‑se, então qual será o objetivo da vida? Aperfeiçoar essa maquina? E será que aqueles que acreditam nesta proposição filosófico‑científica, estão trabalhando para isso, ou, muito pelo contrário, estão trabalhando para diminuir a potencialidade da máquina através do progressivo artificialismo da vida moderna? 

E nesta aceitação da máquina, onde fica o livre arbítrio? 

Se tudo está computadorizado, e se nada existe a ser conquistado além de suas limitações, como resultado do esforço humano, então, o melhor é tirar o maior proveito pessoal da vida ‑ tornar-se existencialista. 

Fato curioso, porém, é o de que quase todo o astrônomo acredita em Deus. A astronomia tem provado que nosso mundo é parte de um Universo em evolução. Ele está inserido dentro de uma galáxia, a Via Láctea, que contém bilhões de sóis com seus planetas, tão imenso, que a luz, à velocidade de 300 mil Kms. por segundo, levaria 100 mil anos para atravessar de uma ponta a outra. Todavia, a Via Láctea é apenas um conjunto, de dimensões médias, no meio de outras tantas bilhões de galáxias. 

Toda esta complexidade universal funcionando dentro do mais perfeito mecanismo de relojoaria, pressupõe a existência de uma Mente Cósmica criadora e mantenedora. Tudo é regido por leis extremamente sábias, que não poderiam ser outras, senão essas que aí estão e que obedecem a um plano.

Em 1.943, a edição do "Bulletin of the American Association for the Advancement of Science" registrou o seguinte: "É duvidoso que os cientistas possam sugerir mudança em alguma lei da natureza que não fosse desvantajosa, ou reduzir, temporariamente, os rigores de algumas dessas leis, sem que, certamente, não viesse a causar mais prejuízos do que benefícios''.

Quanto mais se estuda a natureza, mais extraordinário parece que alguma inteligência pudesse ter sabedoria suficiente para inventar sistema tão complexo e tão funcional, dentro do qual cada célula, cada átomo sabe precisamente, e com absoluta sabedoria, a posição que deve tomar dentro do contexto global.

Podem‑se citar à título de exemplo:

‑ No início havia fermentação. O acúmulo de O2 tornou possível a respiração e possibilitou a vida em estágio mais aperfeiçoado. Havia rajadas de radiação mortal vindas do sol que impossibilitavam a vida e, então, o O2 se transforma em ozônio que sobe e filtra as radiações.

‑ Existem transformações no Universo. Sóis aparecem e sóis morrem. Tudo mostra que houve um começo e haverá um fim. Se um sistema vai converter‑se em morada de vida como a conhecemos, a energia deve emanar de maneira estável e utilizável durante grande período de tempo e é o que acontece como ato de inteligência infinita.

‑ Os átomos de Hidrogênio são elementos de construção com os quais todos os outros elementos são formados. Quando se criou o Hidrogênio, deu‑se a cada átomo 0,008 adicionais de sua massa que, quando em união com outros átomos, formam elementos mais pesados. A massa adicional pode ser transformada em energia sob condições tais como a existente no interior da estrela, ou no centro da bomba de Hidrogênio. Isso só acontece durante o processo construtivo do elemento. Toda a energia do Universo, exceto a dos efeitos de gravitação, deriva desse original 0,008 fornecido pelo Onisciente Criador. O excedente não poderia ser nem mais nem menos. Se menos, não daria calor, se mais, explodiria a estrela. No Universo tudo é controlado por leis naturais. Qualquer desvio em uma dessas leis seria fatal.

‑ O átomo é um micro‑dínamo imaterial no qual o indutor são os elétrons e o induzido os prótons, gerando as forças eletromagnéticas que constituem toda a matéria do cosmos. As energias geradas por esses dínamos ficam retidas mantendo a estrutura e vida dos átomos, não se evadindo.  É uma espécie de eletricidade estática, gerada por um sistema que dela mesma nutre para sustentar sua vida. Se a energia gerada cresce, o sistema se organiza para continuar prendendo a energia dentro. Quando o potencial do elétron atinge o máximo ele descarrega sua energia sobre o próton, realizando uma fecundação e este gera outro elétron. Ao mesmo tempo, o próton dobra seu potencial para suportar o elétron.

 Todas essas maravilhas do Universo, certamente, não poderiam ser resultantes do acaso.

Os biólogos materialistas dizem que a inteligência é função das células cerebrais e que a mente não pode existir independente delas. Ao se estudar a natureza, surgem dúvidas. As células seminais da alga de água doce, do gênero Ulothrix, por exemplo, nadam expelidas pela planta e têm penugem ou cílios em uma das extremidades. Nadam ao redor, sempre aos pares e sempre se põem em contato com a extremidade de cílios, o que prova que não é acidental. Fundem‑se e dão uma célula que, dependendo das condições, pode tornar‑se uma nova planta.

W. Scott Lewis descreve o seguinte episódio: "Os vermes "palolos" que se nutrem no fundo do mar tropical, perto da ilha Samoa, vivem a vida comum de um verme até a véspera do dia em que a lua atinge o quarto minguante no mês de outubro e também em novembro. Nesse dia, parece que uma mensagem misteriosa chega a cada uma das colônias, advertindo-as de que nesse dia é o de seus esponsais. Deste modo pululam para a superfície do mar em inumeráveis bandos até cobri‑lo numa grande extensão. Ali temos um grande mistério que ninguém até agora resolveu. Como pode um verme, no fundo do oceano, onde ele não pode ver a lua, perceber que ela está prestes a atingir o quarto minguante em dado mês do ano, e sabê‑lo no dia certo? Foi provado que eles não se regulam pelas marés ou por algum ritmo da natureza conhecido por nós. É um mistério que, na aparência, não pode ser resolvido até a ciência não quebrar as muralhas de domínios ainda inexplorados". 

A análise dos fenômenos da reprodução acusa inteligência inexplicável, sem cérebro. Existe um direcionamento além do cérebro e que está presente em todos os fenômenos da natureza. 

Observando essa agudeza da Mente Cósmica, cientistas têm se pronunciado:

‑ Isaac Newton (1.642‑1.727), o primeiro a formular a lei da gravitação dos corpos celestes: "A origem do mundo material deve atribuir‑se à inteligência e sabedoria de um poderosíssimo Ser, sempre existente e presente em toda a parte, que domina, consoante a sua vontade, todas as parcelas do universo muito mais eficazmente do que a nossa alma domina, pela sua vontade, os movimentos do corpo que está unido a ela".

‑ Einstein (1.879‑1.955): "Cada descoberta nova da ciência é uma porta nova pela qual encontro mais uma vez Deus, o autor dela".

‑ Leibniz (1.646‑1.716), filósofo e matemático Alemão: "Para sermos felizes, é necessário vivermos na harmonia de Deus".

‑ Jung: "Sei, com segurança, que me confronto com um fator desconhecido em si, ao qual chamo Deus".

 

Quanto mais a gente conhece a física e a biologia, tanto mais forte vai se tornando nossa ânsia por conhecer a origem da compulsão que faz funcionar, tão magistralmente, todas as leis da natureza. 

O homem tende a criar um Deus com sua mente e a divindade não é algo que se possa conceber com a mente. A divindade é algo que se realiza no interior do indivíduo, ou melhor, que brota do seu interior. São palavras de Santo Agostinho: "Se alguém me perguntar o que é Deus, confesso que não sei, mas, se ninguém me perguntar, então, eu sei".

Santo Agostinho (354-430) - Nascido em Tagaste, na Numídia, região ao noroeste da África. Seu Pai era pagão e sua Mãe católica. Em criança, foi catecúmeno sem batismo. Estudou em Cartago. Antes de 20 anos foi pai de um menino que se chamou Adeodato. Tentou ser professor em Roma sem sucesso. Em 384 vai a Milão onde se encontra com Santo Ambrósio e, sob sua orientação, estuda a doutrina dos filósofos neoplatônicos. Em 387, convertido, é batizado por Ambrósio e volta a África. Em 396 é nomeado bispo de Hipona, quando essa cidade Africana se tornou cidade Romana e nesse cargo permanece até a sua morte em 430.

A imprescindível necessidade de auto‑realização é porque o mesmo Cristo que estava em Jesus, está dentro de cada um de nós.

O conceito de Deus no Hinduísmo, conforme está registrado no Brihad‑Aranyaka Upanishad, é o seguinte: "É Aquele que, habitando em todas as coisas, é, no entanto, diverso de todas as coisas; é Aquele a quem todas as coisas desconhecem, mas cujo corpo é feito de todas as coisas; é Aquele que controla todas as coisas a partir de dentro; esse Aquele é a sua Alma, o Controlador interior, o Imortal."

Os avanços feitos nas pesquisas físico‑nucleares durante as duas décadas passadas têm levado os cientistas a postularem a existência de uma região sub‑quântica na qual a matéria existe num estado de subdivisão jamais sonhado no passado. Eles capturaram o neutrino, partícula que pode atravessar a matéria comum assim como a fumaça pode passar através de uma tela de arame; e agora existe evidência de que mesmo os prótons e nêutrons são apenas simples agregados de partículas ainda menores. De modo que a existência de estados mais sutis da matéria, ainda não perceptíveis, está próximo de ser desvendado.

Somos um efeito finito de uma Causa Infinita, por isso não conseguimos entender. O que o homem percebe é relativo. A ciência afirma que a matéria é descontínua e que a madeira, por exemplo, é constituída por vazios, só existem forças que se atraem. Mas nós vemos a madeira contínua, sólida.

Deus, para o Teósofo, é a Unidade Inefável da qual tudo surgiu. O conceito de Deus é um conceito Cósmico, Universal e não antropomorfizado. Deus é a soma de todas as Leis que mantém, com tanta precisão, a harmonia e o equilíbrio do Universo.

Afirmativas que confirmam o pensamento teosófico

‑ Joseph Grasset (1.849‑1.918), Francês, médico, professor de clínica médica na Universidade de Montpellier: "O ocultismo é a Terra Prometida da ciência"

‑ Friedrich Humboldt (1.769‑1.859): "Mais nocivos que a própria incredulidade é o presunçoso ceticismo que repudia os fatos sem examinar se são ou não verdadeiros".

‑ Fritjof Capra, no livro "O ponto de mutação", pag. 353: "Freud e Jung tinham um profundo interesse pela religião e a espiritualidade; mas Freud parecia obcecado pela necessidade de encontrar explicações racionais e científicas para as crenças e os comportamentos religiosos, enquanto a abordagem de Jung foi muito mais direta. Suas várias experiências religiosas pessoais convenceram‑no da realidade da dimensão espiritual da vida. Jung passou a considerar a religião e a mitologia comparadas como fontes inigualáveis de informação sobre o inconsciente coletivo, e concluiu que a espiritualidade genuína é parte integrante da psique humana". 

 

O terreno do conhecimento humano que mais se aproxima da Teosofia é a ciência, não são as religiões. Isto porque o cientista descobre leis e o que o Teósofo busca é descobri‑las também. Apenas o Teósofo leva uma vantagem; as leis lhe são reveladas por seres de natureza transcendente como Krishna, Jesus e outros. O trabalho do homem é experimentá‑las para tirar suas conclusões. 

A Teosofia não tenta explicar Deus; simplesmente dá ferramentas para que o homem consiga se tornar, um dia, igual a Deus, ou seja, ferramentas que possam despertar o Deus que está dentro de cada um de nós. 

Infelizmente para a humanidade, estudantes descrentes, de hoje, serão os cientistas, os mestres, os editores, os legisladores de amanhã. Serão os que dirigirão o pensamento da civilização.

Todavia, uma das grandes esperanças é a de que o materialismo imperante consiga, pelo menos até certo ponto, limpar a mente das superstições, deixando espaço virgem para a espiritualidade que já está surgindo. Nestes últimos anos, vêm se estruturando um número sem conta de movimentos espiritualistas convencidos de que existe algo além desta condição física do homem e empenhados em descobrir a Verdade última do Universo.

 

Segue a transcrição de um pronunciamento de Einstein:

"A opinião comum de que sou ateu repousa sobre grave erro. Quem a pretendeu deduzir de minhas teorias científicas não as entendeu. Creio em um Deus pessoal e posso dizer que nunca, em minha vida, cedi a uma ideologia atéia.

Não há oposição entre ciência e religião. Apenas há cientistas atrasados, que professam idéias que datam de 1880.

Aos dezoito anos, eu já considerava as teorias sobre o evolucionismo mecanicista como irremediavelmente antiquadas. No interior do átomo não reinam a harmonia e a regularidade que estes cientistas costumam pressupor. Nele se depreendem leis prováveis, formuladas na base de estatísticas reformáveis. Ora, essa indeterminação, no plano da matéria, abre lugar à intervenção de uma causa, que produza o equilíbrio e a harmonia dessas relações dessemelhantes e contraditórias da matéria. Há, porém, várias maneiras de representar Deus. Alguns o representam como o Deus mecânico, que intervém no mundo para modificar as leis da natureza e o curso dos acontecimentos. Querem pô‑lo a seu serviço, por meio de fórmulas mágicas. É o Deus dos primitivos, antigos ou modernos. Outros o representam como o Deus jurídico, legislador e agente policial da moralidade, que impõe medo e estabelece distâncias. Outros, enfim, como o Deus interior, que dirige por dentro todas as coisas e que se revela aos homens no mais íntimo da consciência. A mais bela e profunda emoção que se pode experimentar é a sensação do místico. Este é o semeador da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa devanear e ser empolgado pelo encantamento, não passa, em verdade, de um morto.

Saber que realmente existe aquilo que é impenetrável para nós, e que se manifesta como a mais alta das sabedorias e a mais radiosa das belezas, que as nossas faculdades embotadas só podem entender em suas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento está no centro mesmo da verdadeira religiosidade.

A experiência cósmica religiosa é a mais forte e a mais nobre fonte de pesquisa científica.

Minha religião consiste em humilde admiração do espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber em nossos espíritos frágeis e incertos. Essa convicção, profundamente emocional na presença de um poder racionalmente superior, que se revela no incompreensível universo, é a idéia que faço de Deus".

 Anterior                                           Próximo